terça-feira, 21 de junho de 2016

Um breve desabafo sobre o Dia dos Namorados, antes que o mês acabe



Quando decidimos amar a distância, suportamos a ausência em silêncio para que a angústia da falta não nos agrida ainda mais; narramos a vida que corre, lentamente, para que o outro alcance cada chegada e sinta cada partida. Amar a distância é amar em dobro: é sentir que os dias se repetem para que finalmente o dia possa chegar, e é nesse dia que tudo é deixado pra lá... Amar a distância é sofrer ao cubo, é permitir que a tensão da falta te desmorone, te ponha em apuros, te complete de insegurança. Há quem acredite no amor... É para estes "fanáticos religiosos" que a distância se converte em sabor. Se preferirem, podem trocar o ''o'' pelo ''e'', também rima.

sábado, 6 de setembro de 2014

Galeria de fotos

Disse que queria mudar de vida. Difícil, né? A gente se vê metido num caminho e pular para a outra faixa é meio que afogar e, por sorte, acordar vivo numa ilha desconhecida. Haha, engraçado, mas tô falando sério. Eu também tô falando sério. Sim, mas quero dizer o seguinte: vou e pronto.
Estava decidida a dizer sim para si mesma sem pensar no caminho a percorrer, mas no final feliz do outro lado do horizonte. O que eu posso fazer? Me deseja sorte. Tá brincando? É sério. Boa sorte.




Saí me perguntando o que ele faria. Ele faria assim, assim e assado. Diria que eu seria tudo o que eu quisesse e me convidaria para um café. Voltei lá. Vamos tomar um café. Aonde? Ah, tem um café-bar ali. Fomos. No meio do caminho, nos lembramos de quem éramos. Ah, você lembra? Aquela vez que você saiu da sala, me defendeu daquela encrenca e depois foi pra casa morrendo de medo de ser expulsa? Lembro, que merda. Hoje, eu não faria aquilo. E você? Lembra daquele dia que você pela primeira vez na vida tomou um ônibus para me acompanhar naquele show que não aconteceu e que de repente nos vimos perdidas, sem saber como voltar, e ainda por cima sem uma banda? Lembro, que merda, hoje não faria aquilo.

A gente ficou covarde. Eu discordo. Somos as mesmas, com os mesmos impulsos, mas sem as mesmas vontades. Dá no mesmo. Não dá no mesmo. Não precisamos fugir para nos encontrar. Nos assumir, mostrar quem somos é um desafio interior e exterior... Quando o conheci, me conheci...Ele me mostrou, sem me dizer, quem eu era e, sem saber como e por que, fui trilhando este caminho registrado por esta galeria de fotos. Quem sabe eu só precise mesmo de um espelho...

domingo, 29 de junho de 2014

Na beira do Lago Sul

Brasília é uma cidade encantadora: no meio de um plano, no cerrado e ar seco, brilha um lago azul. Minha paixão pela capital é recente e forte. De tal intensidade que me dá impulsos de voltar de tempos em tempos. Nos finais de semana, nos feriados. Viver em Brasília é possível.



Tá, mas o que quero dizer é o seguinte: os encantos da capital devem muito a este gênio brasileiro chamado Niemeyer. O que seria do planalto sem as obras de arte do arquiteto? E o que seria da genialidade do grande sem um eixo monumental? Neste espírito de deslumbramento, que me baixa toda vez que passo pela catedral, vou construindo em mim a Brasília que desejo conviver.



E por falar em obras de artes, desta vez, não encontrei nenhuma exposição, nenhum espetáculo musical, nada que pudesse me ensinar à noite. Tudo bem: nem tudo pode ser perfeito. Se faltam eventos culturais, sobram belezas gratuitas. Por exemplo: quem pode se queixar de passar um final de tarde no Pontão do Lago Sul? A ponte Juscelino Kubitschek ao fundo, o sol se pondo a oeste, as pessoas compartindo a vitória do Brasil contra o Chile num jogo traumático, eu feliz pelo simples fato de estar.



Foi lá, na beira do Lago Sul, olhando a tarde caindo que pude perceber o quanto tenho de Brasília: esse azul que olha e diz "gosta de mim".


terça-feira, 22 de abril de 2014

Por um amor leve e mais nada




Não faz muito tempo que desisti de uma relação promissora (a da famosa frase: tinha tudo pra dar certo). Uma relação fantástica para todos os envolvidos, até que, num belo dia de sol, não a encontrei. Minha paz interior havia caído pelo ralo e, questionando essa falta, tomei a decisão de sair do compromisso para simplesmente me encontrar de novo, seguir em frente, sem drama. 

Mas se alguém me perguntar o que significa, nesse sentido, a paz interior que mencionei; posso dar uma explicação não aceitável: essa paz na verdade é aquela serenidade alérgica que você sente ao estar com o ser amado, seja em que situação for, e de repente você sentir que ali é o céu. Experimentei o transe da paz interior anos atrás, quando no meio de um congestionamento alucinante, o lover que dirigia me pediu para fechar os olhos e, num piscar de olhos, uma música que parecia ter sido feita pro meu coração começava a invadir aquele cenário desolador.



Sem me dar conta, eu estava vivenciando uma cena que me marcaria profundamente e me tornava ainda mais exigente com o próximo amor. "Não quero viver com alguém sem sentir isso de novo", pensei. Mas esta paz me acompanhava em outras situações: fazendo compras, indo à feira, tomando um café, conversando sobre política, meio ambiente ou novela... Você sente a paz interior não apenas no aconchego do abraço, na aceitação do riso, no apoio das mãos dadas. A paz interior não faz barulho, chega em qualquer momento, te invade de prazer e bem-estar, te torna simples, te deixa bela, ela te impulsiona a ser você mesma, a brincar com os erros, a não ter medo do amanhã, a viver sem exigir nada do outro. A paz interior te deixa assim: leve. Uma sensação de estar poeticamente mais próxima do céu, mesmo que você esteja confinada num engarrafamento quilométrico.

Um amigo me dizia uma coisa mais ou menos assim: sem poesia, a vida fica pobre. Essa pobreza me seca, me desanima, me implode. Sem poesia, caro amigo, eu também não vivo. 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Hoje, o vi



No balançar nauseante do ônibus, lá estavam meus pensamentos se misturando às paisagens que via da janela. Ele estava no cheiro do vento que me atravessava. O ônibus, vazio, levava a mim e mais duas pessoas: uma senhora e um senhor. Os dois olhavam para frente. Eu, mais atrás, olhava para a rua e já sabia que, no caminho, lembraria dos percursos que fazíamos, do riso singular, do silêncio gritante... Sem ele por perto, o que restava era o mundo com ele. Havia três anos que não o via e não sabia exatamente se continuava o mesmo, se tinha deixado a barba crescer, se em vez de usar óculos de grau, tinha colocado lentes, se ainda lembrava de mim... Ao chegar no destino, refiz os nossos passos, relembrei dos temas que conversávamos - já velhos e sem motivos para recordações. As pessoas que nos viam ali também não estavam. No entanto, a tarde explodia em seu ardente mês de setembro. Sem alarde, ele aparece. Depois de três longos anos sem notícias, lá estava ele: usando óculos, vestido modestamente com suas roupas invisíveis e um jeito peculiar de ser: o seu. Cogitei de chamá-lo, corri para perto. Ele havia entrado numa loja de produtos infantis. Será pai? Será mãe? Não quis importuná-lo. Já não faz sentido. Só eu o vivo. Ele morreu.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Isla Negra - o nome escolhido por Don Pablo para batizar seu recanto preferido

(Placa fixada numa das esquinas que dão acesso à Casa de Pablo Neruda)

Isla Negra fica a mais ou menos uma hora de Santiago (capital do Chile). Até chegar à cidade mais querida do poeta Neruda percorre-se uma imensidão de beleza, seja ela revestida em belos caminhos, vinhas ou montanhas. A beleza desconcertante, no entanto, está em Algarrobo, cidade vizinha, banhada por um mar lindamente decorado com um pôr do sol cinematográfico e um brilho que ofusca qualquer coração apaixonado por tudo que remeta à natureza. A melhor parte: os moradores da região preservam isso e não contaminam sua praia com plásticos ou lixo.

Voltando à cidade do poeta, sim a cidade é do poeta mesmo. Basta adentrar suas ruelas para ver que tudo está diretamente ligado à Neruda. O nome do mercadinho: "Mercadinho Pablo Neruda" (tradução literal); o nome da escolinha: "Escola Infantil Poeta Pablo Neruda". Sem falar dos restaurantes, estacionamentos, hospitais, etc. Parece loucura, mas é verdade. Lá, as pessoas amam Neruda e também trabalham e se sustentam pela fama do poeta. A própria cidade foi "criada" por ele que batizou-a como "Isla Negra", influenciado pelo belíssimo mar azul e suas rochas escuras. 

Apaixonado pelo mar, Neruda decidiu construir uma casa, na qual pudesse imaginar estar num navio. Desta forma, a casa de Neruda em Isla Negra é toda feita em forma de barco e está localizada estrategicamente em frente ao mar. O teto é baixo e arredondado, as escadas são estreitas; em sua biblioteca particular há inúmeras figuras mitológicas (esculturas de santas e deusas que, segundo os marinheiros, os protegiam durante as longas viagens) afixadas no teto; todas viradas para a janela de vidro, como se estivessem olhando para o mar. O poeta era fascinado pelas histórias contadas por marinheiros e piratas; preservava cada significado que os segredos do mar proporcionavam a estes homens. O curioso é que, mesmo com tamanha paixão, o poeta não sabia nadar.

(Casa de Pablo Neruda mantida por meio da Fundação Pablo Neruda)

 (Painel do poeta Neruda exposto na entrada de sua casa em Isla Negra)
 (Casa do poeta Neruda localizada em Isla Negra)
 (Isla Negra e sua vegetação de clima subtropical)
 (Espécie de mausoléu de dona Matilde e Neruda - o corpo do poeta fora exumado...)
 (Mar de Isla Negra agitado. O nome da cidade foi batizado pelo poeta Neruda...)
 (Coleção de borboletas de Neruda. As espécias maiores vieram da África)
 (Coleção de garrafas de Neruda. Os barcos representam o fascínio do poeta pelo mar)
(A beleza do lugar e o amor do poeta fizeram de Isla Negra um lugar mágico)

(Escrivaninha especial do poeta. No porta-retrato está a imagem de Baudelaire)